Retrospectiva: as Atividades da Malha Fina no Segundo Semestre de 2016
por: Cristiane Gomes, Larissa Pavoni Rodrigues,
Mariana Costa Mendes e Pacelli Dias Alves de Sousa
É com muita alegria que a equipe Malha Fina encerra os trabalhos cartoneros do segundo semestre deste ano, tão intenso e cheio de conquistas. Já na expectativa do novo ano ser ainda mais produtivo para nossa cartonera, nada melhor do que iniciar as férias fazendo uma retrospectiva sobre como foi o segundo semestre de 2016 (e tem muita coisa!).
Inciamos o semestre reestruturando o blog em algumas seções: Caindo na Malha Fina (resenhas), Modus Operandi (tradução), Na Batida Cartonera (reportagens)/Informes Cartoneros e Transversal (entrevistas). Você pode ler mais sobre essa reestruturação no Editorial. Além disso, elaboramos um catálogo das nossas obras lançadas até então, você pode conferi-lo clicando aqui (e se tiver interesse em comprar algum livro, basta entrar em contato conosco)!
Quanto às publicações, a Malha Fina Cartonera deu seu pontapé inicial com o lançamento dos livros A escrita riscada, de Eduardo Lalo e 2 ensaios, de Antonio José Ponte. Ambos livros de autores inéditos no Brasil. O primeiro, livro híbrido entre ensaio e ficção, foi publicado pela primeira vez em 2005 pela editora portorriquenha Tal Cual e teve tradução feita por Chayenne Orru Mubarack, que também assina o posfácio “Caribe rizomático”. À pedido da Malha Fina, a tradutora também resenhou o livro, o texto encontra-se disponível em “Eduardo Lalo e sua escrita riscada”.
O livro do cubano Ponte, por sua vez, teve tradução de Clarisse Lyra e posfácio do próprio autor, feito especialmente para o livro. O livro conta com os ensaios “História de uma bofetada” e “O casaco de ar”: ambos giram em torno do patrono das letras cubanas, José Martí, e debatem a leitura, a memória e a relação entre política e literatura. A tradutora também resenhou o livro, em texto intitulado “José Martí sem pedestal: dois ensaios de Antonio José Ponte”. Para colaborar com a recepção do autor no Brasil, Pacelli Dias Alves de Sousa traduziu a entrevista “Como Bartleby, o corvo de Melville…” que foi concedida por Ponte a Jorge Enrique Lage e com versão original publicada pela Hypermedia Magazine. Na primeira entrevista de Ponte traduzida ao português, o autor apresenta um panorama de sua obra, fala de sua obsessão com a cidade de Havana, da difícil relação entre o Estado e a cultura em Cuba, comenta sobre autores favoritos e sua sobre mais recente obra.
Em setembro, entre os dias 22 e 23 de setembro, a Malha Fina montou sua banquinha de vendas em dois eventos na Universidade de São Paulo: um em parceria com a revista Cisma de tradução e crítica e outro parte do II Encontro do Centro Interdepartamental de Línguas da FFLCH. Infelizmente, não houve grande quantidade de vendas, ainda que houvesse bastante interesse pelo projeto. Da experiência e reflexão sobre a produção e a venda de livros cartoneros no Brasil surgiu o texto “As dificuldades do fazer cartonero”, escrito por Mariana Costa Mendes.
Em outubro, tivemos nossa primeira experiência com oficinas em escolas públicas de São Paulo, iniciando um novo campo de atuação para a Malha Fina. No dia 07, fomos à Escola Municipal General Euclydes de Oliveira Figueiredo realizar oficinas com jovens de 11 a 15 anos, como parte de um projeto cartonero que está sendo implementado na escola pela professora Silvia Martins. Sobre a experiência, a monitora Larissa Pavoni Rodrigues e a colaboradora Alana Oliveira escreveram o texto “Malha Fina na escola: um relato de experiências”.
Além de ensinar todas as etapas da produção de um livro artesanal, desde o corte do papelão até a pintura da capa e título, também foram discutidos com os alunos temas como as origens das palavras cartonera e Malha Fina, o que elas significam e como a técnica cartonera colabora com a preservação do meio ambiente, através da reciclagem.
Os livros confeccionados foram escritos pelos próprios alunos, trabalhados em conjunto com as professoras de português. Entre eles, uma coletânea intitulada Contos de Terror e uma de poesia; também, um livro do escritor Paulo Nunes, com o título Simão está dormindo. A diagramação ficou por conta de Mariana Costa Mendes. (OLIVEIRA; RODRIGUES, 2016)
Participamos da V Jornada da Pós Graduação em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana confeccionando o cartaz do evento e organizando uma de suas mesas, que aconteceu no dia 26 de outubro e contou com a participação de Julián Fuks e de Paloma Vidal, sendo mediada por Pacelli Dias. Aryanna Oliveira, colaboradora da Malha Fina, escreveu uma detalhada reportagem sobre o evento, intitulada “A literatura brasileira em obras: memória de uma conversa com Julián Fuks e Paloma Vidal”.
A escritora, tradutora e professora Paloma Vidal contou um pouco sobre “Em Obras”, projeto transdisciplinar no qual atua como curadora e conta com a companhia de mais seis mulheres ligadas à área das artes e literatura em palestras performáticas, são elas: Cynthia Edul (dramaturga), Diana Klinger (crítica literária), Elisa Pessoa (artista visual), Ilana Feldman (crítica de cinema), Marília Garcia (poeta), Veronica Stigger (escritora). Nele, as artistas brasileiras e argentinas refletem sobre o romance e a literatura contemporânea na América Latina. A exposição de Paloma Vidal foi transcrita pela Idalia Morejón Arnaiz e Larissa Pavoni Rodrigues, e está disponível em “Em obras: saídas da ficção” .
Julián Fuks, recentemente vencedor do prêmio Jabuti por seu romance A resistência (Companhia das Letras, 2015) e autor de Os olhos dos pobres pelo selo Malha Fina Cartonera, apresentou um texto intitulado “Da crise do realismo ao realismo crítico”, no qual refletia sobre a formação do romance, enfocando o caso latino-americano. Segundo reportagem de Aryanna Oliveira:
Relacionando sua tese de doutoramento com outros rumos e, em especial, o modo de escrever do acadêmico e escritor alemão W. G. Sebald, Fuks falou “passando por temas como a historicidade da literatura; a agonia do romance (e suas resiliências entre as atividades humanas essenciais); o silêncio e a impossibilidade da escrita; a emulação do mundo pela ficção; a utilização do trauma como suporte de criação; e, o romance como testemunho do mundo, entre outros assuntos. (OLIVEIRA, 2016)
Neste semestre, buscamos fazer com que o blog fosse também um espaço em que os leitores pudessem acompanhar eventos importantes para o mundo cartonero e das editoras independentes. Nesse sentido, é importante acessar “As cartoneras no Oceanos” e “Feira Miolo(s) 2016: um modelo de independência editorial”, ambos de autoria de Chayenne Mubarack e “Da Festa do livro da USP ao Salão Carioca do Livro” , de Tatiana Faria. Os últimos textos refletem desde diferentes perspectivas sobre o mercado editorial independente, especialmente sobre as feiras literárias, tendo como base a Feira Miolo, a Festa do livro da USP e a LER — Salão Carioca do Livro. Já o primeiro texto, por sua vez, aborda a colocação de Atlântico, de Ronaldo Correia de Brito, publicado pela Mariposa Cartonera, como semifinalista do prêmio Oceanos.
Entre os dias 22 e 27 de novembro, a Malha Fina participou de dois grandes eventos: a 18ª Festa do livro da USP, a convite do GMARX, e a LER — Salão Carioca do Livro, em parceria com a Mariposa Cartonera, selo editorial recifense fundado por Wellington de Mello. Essas duas iniciativas foram extremamente importantes para os calendários livreiro e literário de São Paulo e Rio de Janeiro e intensificaram a venda de livros.
O Salão Carioca do Livro foi a primeira viagem em equipe da Malha Fina, que foi representada pela Idalia Morejón, Tatiana Faria, Larissa Pavoni e Mariana Costa Mendes. O evento cultural festejou a literatura com uma diversificada programação. Durante os quatro dias, a programação do evento contou com a presença de vários escritores, escritoras e artistas reconhecidos. Em matéria de inovação, a participação da Malha Fina Cartonera e da Mariposa Cartonera consagrou o espaço das editoras independentes e artesanais em um stand construído em conjunto, no qual vendemos tanto nossos livros quanto os da Mariposa, vindos de Recife.
Além de vender os livros cartoneros, tivemos a oportunidade de estar ainda mais em contato com o público em duas oficinas oferecidas no espaço Oficina Literária no sábado e no domingo, em que explicamos o nosso projeto para cerca de 50 pessoas, entre crianças e adultos, e demonstramos o fazer do livro cartonero.
Você pode conferir a reportagem sobre esse evento em: “Cariocas por quatro dias: a Malha Fina na LER – Salão Carioca do Livro”, escrito por Larissa Pavoni Rodrigues e Mariana Costa Mendes, que também editou um vídeo sobre os quatro dias de evento e você pode conferi-lo abaixo!
Sobre o mundo cartonero, foi muito frutífera a visita de Darío Ares, do Grupo de Acción Cultural que organiza a Rita Cartonera, em Rosário, na Argentina. Darío esteve na Universidade de São Paulo no dia 29 de novembro para conversar com a equipe da Malha Fina Cartonera. O multiartista falou sobre a concepção e organização da Rita Cartonera, projeto atuante desde 2015 e que já tem dois livros publicados: La casa de cartón, de Martín Adán e Evita traicionera, de Washington Cucurto. Mais sobre a visita de Darío e seu projeto pode ser visto em “Rita, a selvagem, em terras brasileiras”.
Ainda nesse sentido, vale ainda a leitura de “Entre o design visível e o invisível: entrevista com Iara Camargo”, entrevista feita por Larissa Pavoni Rodrigues e Jeison Oliveira a Iara Pierro de Camargo, designer da Malha Fina Cartonera. Iara é formada em Design e recentemente defendeu a tese de doutorado “O livro de literatura: entre o design visível e o invisível” na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Até o momento, assinou o projeto gráfico das edições de Poesia Língua Franca, A escrita riscada e 2 ensaios. Na entrevista fala sobre sua carreira, projetos e sua participação na Malha Fina Cartonera:
“As pessoas muitas vezes não têm sensibilidade quanto à forma e à preocupação estética do livro. Algumas pessoas se preocupam em ter, em colecionar e possuem um carinho pelo livro, mas para algumas pessoas isso passa despercebido e elas não percebem a importância do projeto gráfico, de como é difícil de produzir. Acho que vocês da Malha Fina estão sensibilizando as pessoas em relação a isso, e mostrando que é possível fazer coisas diferentes com materiais que não são nobres, como o papelão. Além de trazerem a ideia do objeto único, porque cada livro é único, tem uma capa única.” (CAMARGO, 2016)
O trabalho estético com o livro também foi tema de “Malha Fina Cartonera nos jardins da academia”, com a participação de Andrés Hernández. O curador, professor e doutorando pelo Instituto de Artes da UNICAMP organizou a exposição “Dos Jardins das academias” na sala de exposições do Laboratório experimental de Artes (Aquário), da Universidade Federal de Uberlândia. A exposição contou com capas feitas para livros cartoneros por diversos artistas, alunos de uma disciplina ministrada pelo curador.
Além disso, a capa desse semestre da revista Landa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi elaborada por dois de nossos monitores: Pacelli Dias e Cristiane Gomes. Você pode conferir a capa abaixo e clicando aqui você ter acesso a todo conteúdo da revista.
Em novembro, a equipe da Malha Fina ministrou mais duas oficinas: uma como parte da IV Jornada Pedagógica da Diretoria Regional de Educação do Butantã e outra na Escola Municipal Jocymara de Falchi Jorge. A primeira foi realizada no dia 9 de novembro na EMEF Maria Alice Borges Ghion e dela participaram professores da rede pública de ensino. Com o tema “Currículo Emancipatório em Movimento: Reencantamento do Mundo e da Educação”, foi um dia de debates não só sobre a natureza das cartoneras e os processos de confecção dos livros, mas também sobre as suas possibilidades de disseminar o projeto cartonero nas escolas, contribuindo para a produção literária e artística dos alunos.
A última oficina do semestre aconteceu no dia 21 de novembro, na Escola Municipal Jocymara de Falchi Jorge, localizada na Vila Carmela (Guarulhos/SP). Participaram alunos do 3º ano do Ensino Fundamental I. No dia, foi produzido o título Poesia na Escola, conjunto de poemas sobre a infância escritos pelos alunos sob coordenação das professoras Cícera e Sueli. A diagramação do miolo foi feita pela monitora Cristiane Gomes. Você pode ver mais detalhes sobre as duas oficinas em “Malha Fina nas escolas: um semestre em retrospectiva”, uma reportagem feita por Larissa Pavoni e Chayenne Mubarack.
As experiências nas escolas fazem parte de nossa proposta de propagar a literatura em espaços nos quais ela circula de maneira reduzida, e nos sentimos satisfeitos por termos dado esse grande passo e contribuído para a formação dos muitos estudantes e professores da rede pública que tivemos contato.
Para o ano que vem as novidades já são várias: estamos muito animados pois agora temos uma sala própria, localizada no prédio de Letras de nossa faculdade, onde poderemos guardar nossos livros e materiais, além de organizar reuniões e oficinas.
Agradecemos muito cada um que cruzou nosso caminho e nos proporcionou tão rica troca de experiência ao longo do ano de 2016, seja em eventos, oficinas, feiras, saraus, cada colaborador e colaboradora do nosso blog, e seguimos contando com vocês ano que vem! Até lá!